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A EDUCAÇÃO NA ERA DA PEDRA LASCADA

Cultura



A educação na era da pedra lascada

CLÓVES VETTORATO | 17/08/2006 14:44

Dizem que começamos a envelhecer quando as recordações passam a ocupar o lugar dos nossos sonhos. Dias atrás estava recordando minha infância e descobri que sou da “era da pedra lascada”, incrível. Tinha 6 anos quando comecei ir à escola. Andava 4 quilômetros a pé ou a cavalo para freqüentar uma escola rural no interior do R.G. do Sul. No “bocó” (sacola de pano) não levava nem livros nem cadernos. Levava uma pedra de ardósia com moldura de madeira e um “lápis” também de ardósia que permitia “fazer contas” e anotar as tarefas de casa. Caso tomasse uma chuva pelo caminho, lá se iam as anotações.

Achei divertido lembrar os primeiros cadernos de “caligrafia”, de linhas e quadriculado para fazer “contas”, lápis com borracha, apontador e já bem mais tarde a revolucionária caneta esferográfica. A formação de um jovem passava pelo “Curso Primário”, 5 anos, exame de admissão para entrar no “Ginásio”, 4 anos, “Científico” 3 anos, e depois vinha a faculdade. Coisa para poucos privilegiados.

Estava ainda lembrando a importância da família, especialmente da mãe, na minha formação. O pai era a referência, o exemplo, e a mãe era porto seguro, onde se buscava soluções para todos os problemas. Nas dificuldades de resolver as tarefas de casa, me socorria com a mãe. Como ela mal sabia escrever o nome, quase sempre minhas dúvidas tinham como resposta: “Pense, meu filho, pense”, me estimulado a buscar soluções por conta própria.

Na escola se aprendia a ler, escrever, “fazer contas”, história, geografia, respeito aos símbolos nacionais e o convívio com os colegas. Gostava muito das aulas de trabalhos manuais, onde aprendíamos a fazer de tudo um pouco. Era o estímulo a criatividade e ao trabalho. Antes de entrar na sala de aula, a gurizada uniformizada com “guarda pó branco” e “casquete” (gorro) branco com azul, tinha que formar fileira por altura e hastear a bandeira cantando o Hino Nacional ou o Hino à Bandeira, aprendendo assim a amar a Pátria. Mau comportamento na escola, dava castigo na certa. De joelhos no canto da sala ou escrever 100 vezes “não devo dizer nome feio” e coisas parecidas. Meus pais não iam tomar satisfação dos professores pelos castigos que eu recebia, entendiam que aquilo fazia parte da minha formação.

Em casa, como já disse, o Pai era ponto de referência e a Mãe guardiã dos valores morais da família. Ela ensinava aos filhos respeito aos outros, principalmente aos mais velhos, conceitos de honestidade, importância do trabalho, do estudo, necessidade de poupar e economizar, cumprir compromissos, não trair, não roubar, não mentir e outros valores que passaram a fazer parte da minha vida.

Meus pés conheceram sapatos aos 7 anos, quando fiz a primeira comunhão e escutei rádio pela primeira vez aos 10. Depois assisti ao surgimento da televisão P&B, rádio portátil, TV colorida, fita cassete e vídeo cassete, até chegarmos ao DVD. Profissionalmente passei pela máquina de calcular Facit de manivela, Eletrossuma, computadores Olivetti de ½ K de memória, os fantásticos IBMs /3, o Fax ( que avanço extraordinário), que aposentou o telex em questão de meses, os PCs, Lap Tops, Internet, telefone celular e outras modernidades tecnológicas que ainda não assimilei.

É uma diferença brutal do aparato disponibilizado nas escolas de hoje e daquela com uma única sala de aula, com um único professor para todas as matérias e todas as turmas do 1º. ao 5º. ano onde estudei.

Hoje temos um professor qualificado para cada disciplina, escolas bem estruturadas com laboratórios de física, química, informática, amplas salas de aula, ginásio de esportes, piscina, transporte escolar e um conjunto de outras facilidades. Está faltando o quê para nossas crianças terem uma melhor formação?

A função da família na formação da personalidade do jovem é fundamental e nada adiantará bons professores e uma escola bem estruturada se a criança não receber de casa bons exemplos, apoio e os fundamentos de convívio social que a nortearão pelo resto da vida. Portanto, a proposta de trabalhar a família para que esta se integre no esforço educacional é resgatar conceitos que ao longo do tempo foram esquecidos ou empurrados para um segundo plano. Não é tarefa fácil, mas precisa ser tentada.
 

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